Espaços em branco por Teresa Margarida | Pacote de açúcar #1


Uma breve descrição do processo:
Decidido que estava, sem margem para dúvidas, a categoria do trabalho a apresentar, faltava criar o ambiente onde pudessem surgir personagens Assim que vi o desenho do azulejo de azul no pacote de açúcar, imaginei uma história de amor, porque os azulejos sempre me fizeram lembrar namorados. Andei uns dias com um casal de velhinhos na cabeça onde um deles mandava construir um banco de azulejo no jardim depois do pedido do outro no dia em que morreu.

Outra ideia inicial foi tentar que o local decorado pelos azulejos fosse o cenário comum a partes de várias histórias diferente. Mais tarde pensei também em criar uma situação vista por vários prismas, criando diferentes verdades de acordo com o sujeito.

Depois de andar uns dias acompanhada com o meu casal de velhotes, lembrei-me de já me ter sentado num banco de jardim feito de azulejo. Não conseguia lembrar-me onde mas sabia que tinha sido no tempo do secundário. Pedi a uma conterrânea que o procurasse e me enviasse fotos. Ela acedeu prontamente, mas a partilha das fotos não correu como previsto e acabei por descartar esta ideia.

Confesso que durante dias não pensei mais neste projeto, tendo até desistido de participar. No entanto, ia pensando no que queria fazer e a ideia de uma mulher à espera num banco de jardim como figura central foi-se formando. Também apareceu na minha mente alguém a olhá-la. Sem fotos e sem tempo para continuar a cogitar ideias, peguei no computador e comecei a escrever o que seria a situação central.



A partir da primeira linha, as personagens, as suas histórias e os seus pensamentos apareceram à medida que ia escrevendo. Não fui eu que verdadeiramente as criei, elas apresentaram-se-me. Não foi minha intenção dar finais ou passar lições de moral com as histórias. Uma das minhas mais frutíferas fontes de inspiração é a música. Gosto muito da construção pessoal que cada um pode fazer da música, porque é uma categoria da arte onde não se pretende finalizar, onde fica muito em aberto. O mesmo acontece com a fotografia, que por vezes também me serve de inspiração. Procurei essencialmente isso. Dar o estímulo, criar uma imagem mental. O resto das histórias, os seus ensinamentos queria deixar ao critério de cada um, na liberdade de cada um.

Depois lá fiz uma nova tentativa de receber as fotos. A ideia era dividir a fotos em partes de modo a que só juntas dessem, realmente, a imagem total. Tal como numa construção de azulejos, tal como na vida. Tal como nas histórias, a ideia das fotos era mostrar uma parte da realidade sem mostrar os seus elos de ligação, omitindo vários pormenores, procurando concretizar a ausência de informação que temos a todos os instantes sobre a realidade.

As fotos que recebi não eram as do banco que me lembrava, mas estas também me teriam dado ideias românticas uma vez que o banco fotografado se encontra em frente à suposta casa de Teresa de Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco. Desta lembrança surgiu o último elemento com uma história de amor desgraçada e mortal. Daquelas bem embebidas em Romantismo, tal como a história de Teresa e Simão.

Quanto ao formato, inicialmente pensei em apresentar o projeto em Word, mas quando olhava o texto parecia faltar ambiente, contextualização. Não querendo trabalhar com palavras o ambiente ou a descrição das personagens lembrei-me de molduras.
As molduras lembraram-me o Power Point e quando vi o enquadramento que escolhi, pensei que era mesmo isto que eu queria, porque me fez recuar para a época que os azulejos e Amor de Perdição me remetem. De referir que sou pessoa dedicada às letras e à escrita. Não tenho, não conheço e não domino programas de edição mais avançados ou adequados…
Foi fácil dar as molduras que pretendia às imagens e conseguir mostrá-las em várias partes como se fossem peças de um puzzle que se vai construindo à medida que se avança na apresentação.
Não foi fácil, nem prático decidir como inserir o texto com delicadeza e sem parecer à partida muito cansativo.
Também não foi pacífico encontrar um título. Tinha idealizado uma só palavra e ainda pesquisei sobre a existência de um nome para o espaço em branco que fica nas construções a azulejo, mas não encontrei. Encontrei, no entanto, muita informação interessante sobre azulejos em http://pt.wikipedia.org/wiki/Azulejo. Fartei-me de sorrir com as coincidências entre as minhas imagens e associações e a informação encontrada. Prova mais do que concreta de que a sociedade e a cultura influenciam o nosso pensar e sentir.

Concluindo, todo o trabalho ficou muito diferente do que tinha pensado inicialmente. Apesar disso, depois de mais de seis horas de trabalho intensivo, acho que não está mal.
Pelo menos para quem gosta de ler.

Espero que gostem.
T.



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